Esta dissertação analisa a atuação intelectual de Francisco de Assis Iglésias, discutindo como o autor se insere no panorama das expedições científicas e dos memorialistas que, entre 1910 e 1940, percorreram o sertão brasileiro e representaram as paisagens piauienses. Entre esses viajantes, destacam-se Euclides da Cunha (1902), Arthur Neiva e Belisário Penna (1916), Agenor Miranda (1941), Paulo Thedim Barreto (1937) e Luiz Saia (1937), situando Iglésias nesse conjunto de intelectuais que atuaram nas primeiras décadas do século XX. Dessa forma, alguns objetivos específicos são pertinentes para a pesquisa, como: discutir os traços autobiográficos e memorialísticos do autor em suas obras, tecendo os (des)encontros entre literatura e história; refletir sobre as interconexões entre o tecido urbano, o espaço rural e a relação com a saúde; problematizar questões culturais de estranhamentos e preservadas pelos intelectuais. Metodologicamente, adota-se uma abordagem analítico-interpretativa, centrada na trajetória de Iglésias como cientista memorialista e viajante do Meio Norte. Para tanto, são analisadas diversas produções do autor, Caatingas e Chapadões e Memórias de um agrônomo, somado a fontes oficiais enviadas à Câmara Legislativa como as mensagens de Miguel de Paiva Rosa e Eurípedes Clementino de Aguiar. O estudo promove um olhar relacional entre Iglésias, outros viajantes e cientistas memorialistas do mesmo período, a fim de evidenciar as especificidades de seu olhar e sua contribuição para o movimento memorialista do sertão. A pesquisa é fundamentada por um diálogo com autores dos campos da História, Literatura e Memória, como Jacques Le Goff (2014), Hannah Arendt (2010), Marc Bloch (1997), Pierre Nora (1993), Pierre Bourdieu (2006), Peter Burke (1992), Giovanni Levi (2006), Raymond Williams (1989), Ítalo Calvino (2003), Maurice Blanchot (2011), Durval Muniz (2018), Roger Chartier (2009) e Michel de Certeau (2011). Paralelamente, privilegia leituras historiográficas sobre Iglésias e o sertão, destacando os trabalhos de Filipe Oliveira da Silva (2016), Pedro Pio Fontineles Filho (2023), Joseanne Marinho (2019), Sandra Pesavento (2007), Lejeune (2015), Marcos Bagno (1999), Marina Lages (2016), entre outros. Além dos já citados, utilizam-se os relatos de viagem de Spix & Martius (1823), George Gardner (1846) e Gustavo Dodt (1912), que representam, de forma técnica, as paisagens de cidades piauienses como Teresina, Parnaíba, Uruçuí e Floriano. Os resultados parciais indicam que o engenheiro agrônomo fazia parte de um grande movimento civilizatório, no qual instituições financiavam a vinda desses intelectuais para mapear, civilizar e “docilizar” o Meio-Norte brasileiro. Sua trajetória preserva a memória desses cenários percorridos com subjetividade, constituindo objeto rico para a História, com uma narrativa romanceada que transcende o teor técnico e guia os caminhos para localizá-lo em meio às representações memorialistas vivenciadas pelos viajantes na Primeira República brasileira.