O estudo aqui apresentado surgiu a partir da necessidade de melhor compreensão sobre o
nível municipal da gestão do Sistema Único de Assistência Social no Brasil numa perspectiva
democrática a partir da realidade de municípios da Região da Serra da Ibiapaba, interior do
Estado do Ceará. A escolha pelo objeto e a importância do estudo justificam-se pela lacuna
que ainda existe na literatura sobre o nível local de gestão da política de Assistência Social,
mesmo sendo nesse âmbito onde os parâmetros gerais da política encontram a realidade
territórios, dos sujeitos, das famílias e dos grupos sociais. É nesse nível de gestão onde a
política alcança sua última formatação, ganha os últimos ajustes para chegar diretamente no
seu público-alvo e, portanto, os processos de gestão democrática tem significativa
importância. A pesquisa então traz como objetivo primário analisar a gestão municipal da
política de Assistência Social em municípios do Ceará, seus desafios e potencialidades para o
fortalecimento de um modelo de gestão democrática à luz das diretrizes do SUAS. Para
alcançar essa compreensão o estudo foi feito em três municípios da Região da Serra da
Ibiapaba, noroeste do Ceará, onde foram entrevistados três atores da política em cada
município: o secretário e dois membros dos conselhos locais, utilizando como instrumento de
coleta de dados um roteiro de Entrevista Aberta. O processamento dos dados foi realizado
com o software IRAMUTEQ (Interface de R pourles Analyses Multidimensionnelles de
Textes et de Questionnaires) 0.7, versão alpha 2 e com o software estatístico R versão 4.1.3.
Os resultados demonstram que a realidade da gestão do SUAS nos municípios é atravessada
por fatores que ainda tensionam fortemente uma efetiva gestão democrática. Fatores
históricos da relação Estado-sociedade como o patrimonialismo e o primeiro-damismo
marcam esse campo, mas também a pesquisa identificou elementos e amarras culturais e
institucionais que minimizam a atuação dos conselhos municipais ao cumprimento de meros
trãmites burocráticos/processuais, além do fator da violência objetiva e simbólica exercida por
grupos criminosos nos territórios que desafiam a política e a participação da sociedade.
Conclui-se que tais elementos são de grande importância analítica, sobretudo no cenário atual
onde o mundo e o Brasil tem enfrentado ataques sistêmicos à democracia e a participação dos
cidadãos na vida pública tem gerado cada vez menos envolvimento pelos setores da
sociedade.