Simaba ferruginea A.St.-Hil., é conhecida popularmente como calunga ou féo-da-terra. Estudos prévios constataram que a atividade antiulcerogênica do extrato metanólico de S. ferruginea A.St.-Hil., na úlcera induzida pelo etanol é mediada em parte pelo aumento na produção de NO endógeno. Noldin et al. (2005) demonstraram que alcaloides isolados desta planta promoviam gastroproteção em animais submetidos à lesão gástrica, bem como atividade antinociceptiva significativa em camundongos. O objetivo deste estudo foi investigar a atividade espasmolítica do extrato etanólico das folhas de S. ferruginea A.St.-Hil., Sf-EtOH em íleo isolado de ratos, além de avaliar o perfil citotóxico do Sf-EtOH em macrófagos murinos e eritrócitos de carneiro. A CC50 (340,10 µg/mL) do extrato sobre macrófagos murinos não superou a maior CE50 (157,5 ± 31,4µg/mL) testada nos experimentos e o mesmo apresentou menos de 20% de hemólise na concentração mais elevada (800 μg/mL). O extrato Sf-EtOH relaxou de maneira dependente de concentração o íleo de rato pré-contraído com 40 mM de KCl (CE50 = 21,5 ± 1,2 µg/mL) ou 10-6 M de carbacol (CE50 = 9,5 ± 0,9 µg/mL), sugerindo uma possível ação na via de sinalização do carbacol, bem como em alvos moduladores da mesma. Em íleo de rato, a resposta máxima às contrações fásicas induzidas pelo agente contrátil carbacol (Emax= 100,0 %) foram atenuadas significativamente (Emax = 24,91 ± 1,08 %;****p< 0,001), indicando uma possível participação na mobilização de cálcio pelos receptores sensíveis ao IP3, posteriormente observou-se que Sf-EtOH também inibiu as curvas cumulativas ao carbacol (CCh), KCl e CaCl2 e estas foram desviadas para a direita de maneira não paralela com redução do Emax, sugerindo um antagonismo não competitivo e que o extrato deve estar agindo indiretamente bloqueando os canais de Ca2+ dependentes de voltagem (CaV) ou modulando positivamente os canais de K+. A confirmação desta hipótese veio com a observação de que a curva de relaxamento induzida pelo extrato Sf-EtOH (CE50 = 9,5 ± 0,9 µg/mL) foi desviada para a direita na presença de tetraetilamônio (TEA+) 5 mM (CE50 = 157,5 ± 31,4 µg/mL), nessa concentração é um bloqueador não seletivo dos canais de K+, e na presença de bloqueadores seletivos para BKCa, KATP e SKCa, respectivamente, (TEA+) 1 mM (CE50 = 105,1 ± 9,5 µg/mL), 10-5 M de glibenclamida (CE50 = 129,5 ± 11,1 µg/mL) e 10 nM de Apamina (CE50 = 25,20 ± 5,9 µg/mL). A participação do óxido nítrico no trato gastrintestinal como uma das vias responsáveis pelo relaxamento do íleo nos deu base para investigar essa via no efeito espasmolítico de Sf-EtOH. Na presença de L-NAME (CE50 = 139,1 ± 43,6 µg/mL), um bloqueador da enzima óxido nítrico sintase, e ODQ (CE50 = 152,9 ± 21,7 µg/mL), inibidor da guanilil ciclase solúvel, verificou-se que a curva de relaxamento foi desviada para a direita, sugerindo também uma participação da via do NO. Então, foi possível demonstrar pela primeira vez que o Sf-EtOH não apresenta efeito citotóxico em macrófagos murinos e eritrócitos de carneiro, e que o mecanismo de ação relaxante em íleo de rato atua de maneira dependente de concentração e envolve a via do NO e a modulação positiva dos canais de K+. Esses dados reforçam, portanto, a importância da ativação da via do NO e a modulação positiva de canais de K+ para explicar o mecanismo relaxante de Sf-EtOH em íleo isolado de rato.