Os distúrbios de motilidade gastrointestinal (GI) como constipação e íleo pós-operatório (IPO) estão entre os principais distúrbios GI diagnosticados. A maioria dos fármacos procinéticos disponíveis, carregam consigo inúmeros efeitos adversos, dentre eles o mais comum é o potencial cardiotóxico. IPO é definido como hipomotilidade intestinal após intervenção cirúrgica, tem patogênese caracterizada em duas fases: neurogênica inicial e inflamatória prolongada. Faz-se necessário novas estratégias farmacológicas para acelerar a recuperação do IPO. O Ferulato de Etila (FE) é um fenilpropanóide derivado do ácido ferúlico, com atividades anti-inflamatória e antioxidante. É amplamente encontrado em vegetais e em grãos (arroz e milho). O objetivo deste estudo foi avaliar o efeito procinético do FE em roedores. Para isso, foram utilizados camundongos swiss (25-30 g). Para avaliar o trânsito GI, foi realizado o teste de propulsão do carvão vegetal. Primeiramente foi avaliado o efeito procinético do FE sobre o trânsito GI normal de camundongos, posteriormente seguimos com avaliação do efeito do FE sobre retardo GI induzido por fármacos. Foi avaliado o efeito do FE sobre o esvaziamento gástrico. Em seguida, avaliamos o efeito de FE em modelos de IPO através de manipulação intestinal, onde foi analisado o trânsito GI, níveis de mieloperoxidase (MPO), nitrito (NOx), superóxido dismutase (SOD), glutationa reduzida (GSH) e malondialdeído (MDA) em amostras de íleo. Foi observado aumento significativo do trânsito GI normal de camundongos do FE nas doses de 50 e 100 mg/Kg (73,41 % ± 2,14 e 67,82 ± 3,68 %, respectivamente)comparada com o controle veículo (42,48%). Deu-se continuaidade aos testes posteriores com a FE na dose de 50mg/kg. A co-administração de Atropina com FE (60,20±2,34 %) inibiu significativamente o efeito procinético do FE (79,03 ± 4,12), sugerindo o envolvimento da ativação do receptor muscarínico de acetilcolina. A co-administração de FE com morfina (17,35 ± 2,07 %) não foi capaz de reverter o efeito inibitório da morfina (17,08 ± 5,05 %) sobre o trânsito gastrointestinal, isso sugere ausência de antagonismo opióide quando comparado ao grupo tratado como a naloxona e morfina (54,13 ± 10,44%), além de que pode haver antagonismo fisiológico, onde outras vias de importante função no efeito de FE, estão envolvidas no efeito constipante da morfina. A co-administração de verapamil foi capaz de reduzir significativamente o efeito procinético do ferulato de etila (47,68±2,15%), quando comparado ao grupo FE (76,83±1,88%), sugerindo envolvimento da ativação dos canais de cálcio. Não houve diferença significativa entre o grupo FE (71,76 ± 4,1%) o grupo co-tratado com Ondansetrona e FE (72,18 ± 5,76%), sugerindo possível não envolvimento da via serotoninérgica no efeito procinético de FE. Foi possível observar também que o Ferulato de etila (50mg/kg) não altera o perfil de esvaziamento gástrico nos animais, pois não houve diferença significativa nas percentagens de retenção gástrica entre o grupo veículo e o grupo FE. No modelo IPO , houve redução significativa do trânsito gastrointestinal (52,31 ± 3,18 %) no grupo veículo, quando comparado ao grupo sham (67,21 ± 4,28 %). O tratamento com FE acelerou o trânsito GI (76,08 ± 2,24 %), reduziu os níveis da MPO, NOx e MDA, houve aumento de SOD e GSH comparado ao grupo veículo. O tratamento com FE reduziu a inflamação induzida por IPO e elevou os níveis de antioxidantes endógenos. Este estudo indica o efeito prócinético do ferulato de etila e sugere que possa ser uma alternativa às drogas pró-cinéticas disponíveis para o tratamento de distúrbios gastrointestinais como a constipação e íleo pós-operatório.