A úlcera gástrica é um dos principais distúrbios gastrintestinais, sendo considerada uma doença comum que afeta mais de 10% da população mundial, com incidência e prevalência crescente e altas taxas de morbidade e mortalidade. No Brasil, segundo o Ministério da Saúde, foram relatadas 11.532 internações no ano de 2018, relacionadas a presença de úlceras gástricas e duodenais, com taxa de mortalidade de 9,86%. A espécie Tocoyena hispidula Standl., conhecida popularmente como flor-do-cerrado, angeliquinha, angelca ou jenipapinho é um subarbusto usado popularmente como terapia medicinal para dor de barriga (chá preparado por infusão) e inflamação no útero (garrafada). Já foram identificados em sua composição compostos como cumarinas, triterpenóides e iridoídes que podem ter importante ação antiinflamatória, antiulcerogênica e antioxidante. O objetivo desse estudo foi investigar a atividade gastroprotetora do extrato etanólico obtido do caule de Tocoyena hispidula Standl (Th-EtOHcc) e sua fração metanólica Th-MeOHcc (na melhor dose do extrato) em modelos de lesões gástricas em ratos ou camundongos avaliando os possíveis mecanismos de ação bem como os sinais de toxicidade durante o acompanhamento dos animais (machos ou fêmeas) tratados por via oral com dose única ou com doses diárias do extrato em modelo crônico de lesão gástrica. Para isso, foram utilizados camundongos Swiss (30-35g) nos quais se avaliou a toxicidade aguda e a área ulcerada de lesões gástricas induzidas por etanol. Utilizou-se ratos Wistar (180- 250 g), para avaliar a área ulcerada de lesões gástricas induzidas por isquemia e reperfusão, bem como determinar o volume de lesão induzida por ácido acético, além da preservação da barreira de muco no modelo de ligadura de piloro (CEUA 413/17). Tanto na avaliação de toxicidade aguda (dose única de 2000 mg/kg, v.o.) quanto no tratamento diário durante 7 dias consecutivos (1, 10 e 50 mg/kg, v.o.), o extrato Th-EtOHcc não apresentou efeitos deletérios que implicasse toxicidade. Th-MeOHcc (50 mg/kg, v.o.) também não apresentou sinais de toxicidade nos animais tratados por 7 dias consecutivos. No modelo de úlceras induzidas por etanol absoluto, o Th-EtOHcc apresentou efeito gastroprotetor significativo nas doses de 1, 10 e 50 mg/kg, ao inibir a área da lesão em 72%, 86% e 84%, respectivamente. No modelo de iquemia e reperfusão, Th-EtOHcc apresentou efeito gastroprotetor nas doses de 10 e 50 mg/kg, ao inibir a área de lesão em 96% e 61%, respectivamente. Ao investigar os possíveis mecanismos envolvidos nessa gastroproteção, foi possível verificar que Th-EtOHcc foi capaz de reduzir significativamente as citocinas pró-inflamatória TNF-α e IL-1β no modelo de lesão induzido por isquemia e reperfusão, bem como, também foi capaz de preservar os níveis de muco no modelo de ligadura do piloro. Nas lesões induzidas por ácido acético, o extrato ThEtOHcc nas doses de 1, 10, e 50 mg/kg diminuiu significativamente o volume da lesão ulcerativa em 81%, 58% e 71%, respectivamente, em comparação ao grupo veículo, demonstrando efeito restaurador da mucosa. Nesse último protocolo foi avaliado ainda um possível efeito cicatrizante da fração Th-MeOHcc (50 mg/kg), que também foi capaz de diminuir significativamente o volume da lesão em 85%. O presente trabalho evidencia a baixa toxicidade de Th-EtOHcc, bem como seu efeito gastroprotetor sobre a lesão gástrica induzida por etanol absoluto e isquemia e reperfusão por meio da inibição da migração neutrofílica e da manutenção da integridade da mucosa, além disso, Th-EtOHcc apresenta atividade cicatrizante, por diminuição de infiltrado neutrofiílico e aumento de fibras de colágeno, observados microscopicamente, bem como pela preservação da barreira de muco evidenciado no protocolo de ligadura do piloro