Efeitos da Quercetina em modelos experimentais de nocicepção e possíveis mecanismos de ação envolvidos.
Quercetina, antinociceptivo, dor neuropática, mecanismo de ação.
A Quercetina (3,3`,4`,5,7-pentahidroxiflavona) é um flavonoide, amplamente encontrado na natureza, muito abundante em frutas e vegetais. Diversas pesquisas destacam o seu uso como cardioprotetor, anticarcinogênico, neuroprotetor, anti-inflamatórios, antidiabético, entre outros, mas a sua principal característica é a capacidade varredora de radicais livres. O objetivo desse trabalho foi delinear a ação antinociceptiva aguda e crônica, bem como elucidar os possíveis mecanismos de ação envolvidos. Camundongos Swiss machos (20-30 g; n=6-8) e ratos Wistar machos (170-250 g/ n=6-8), foram utilizados nos testes de nocicepção. Inicialmente foram detectados efeitos antinociceptivos e/ou protetores da Quercetina (5, 10 e 15 mg/kg, i.p) em ratos submetidos à compressão parcial do nervo ciático (CPNC) e avaliados pela aplicação dos filamentos de von Frey na pata direita. Nesse modelo crônico de nocicepção, os ratos tratados com o flavonoide durante 7 dias apresentaram limiares de nocicepção mecânica semelhantes à aqueles tratados com amitriptilina (10 mg/kg, i.p) e com ratos sham operados. Em outros experimentos, os ratos submetidos à CPNC foram tratados com quercetina (10 e 20 mg/kg, i.p) somente no oitavo dia após o procedimento cirúrgico, quando foi observado o aumento nos limiares de dor comparavéis aos resultados com a morfina morfina (5 mg/kg, i.p). Nesse protocolo, a dose de 10mg/kg apresentou ação na segunda e terceira hora após a administração, enquanto que a dose de 20mg/kg mostrou resultados semelhantes aos da morfina nas primeiras horas, mas sua ação antinociceptiva ainda foi evidente na terceira hora. Diante desses dados, os efeitos agudos da quercetina (10 e 15 mg/kg) foram investigados em outro modelo de dor crônica, ou seja, na neuropatia diabética, também avaliada por estímulo mecânico em ratos com diabetes induzido por estreptozotocina (STZ), O tratamento em dose única da quercetina (10 ou 15 mg/kg, i.p.) após 28 dias da indução do diabetes não foi efetivo para reestabelecer o limiar nociceptivo, uma vez que não atingiu o valor inicial desse grupo ou o valor do grupo controle ou não diabético. No terceiro modelo de dor, foiempregado o teste do glutamato, um modelo de dor aguda, onde foi quantificado o tempo de lambedura, por 15 minutos da pata estimulada com glutamato (20 μL, 20 μmol/pata), após tratamento com quercetina (10 e 20 mg/kg, i.p), veículo ou morfina (5 mg/kg, i.p). As doses de 10 e 20 mg/kg tiveram resposta significativa sobre a nocicepção, assim como a morfina. A partir desses resultados foram investigados os possíveis mecanismos envolvidos no seu efeito antinociceptivo, no teste do glutamato. O tratamento com naloxona (2 mg/kg, i.p) e mecamilamina (2 mg/kg, i.p), 20 minutos antes da Quercetina (10 mg/kg, i.p) não foi capaz de reverter o efeito do flavonoide. No entanto, o pré-tratamento com glibenclamida (3 mg/kg, i.p.), L-arginina (600 mg/kg, i.p.) e atropina ( 1 mg/kg, i.p) reverteram a ação do flavonoide. Com base no exposto, notamos um efeito antinociceptivo diante da neuropatia por injúria do nervo ciático e em modelo de dor aguda, sugerindo que a Quercetina tem sua ação possivelmente mediada pelos canais para K+ATP, com participação da via L-arginina oxido nítrico e envolvimento dos receptores muscarinicos do sistema colinérgico.