A pesquisa investiga a atuação dos burocratas de nível de rua (BNR) na implementação das políticas socioassistenciais voltadas à infância e adolescência nos Centros de Referência da Assistência Social (CRAS) de Caxias (MA). Esses profissionais, por estarem na linha de frente da execução das políticas públicas, exercem papel central na mediação entre Estado e usuários dos serviços. No entanto, sua atuação é moldada por fatores institucionais, organizacionais e subjetivos que influenciam diretamente a forma como essas políticas são aplicadas e vivenciadas. O estudo parte da hipótese de que a atuação dos BNR não é homogênea, sendo influenciada por múltiplas variáveis: normas institucionais, relações interpessoais, percepções individuais e o grau de discricionariedade em suas funções. Adotando abordagem qualitativa, a pesquisa utiliza entrevistas semiestruturadas com profissionais dos CRAS e análise lexical com o software IRaMuTeQ para identificar padrões discursivos e sistematizar os fatores que orientam o comportamento desses agentes. Os resultados revelam quatro dimensões principais que influenciam as práticas dos BNR: (i) institucional, relacionada a normas e limitações administrativas; (ii) pessoal, ligada a valores, motivações e experiências; (iii) percepção, referente à visão que os profissionais têm das famílias atendidas; e (iv) relacional, que envolve interações com colegas, gestores e instituições parceiras. Mesmo diante de restrições e desafios estruturais, os BNR demonstram significativa autonomia na execução das políticas, adotando estratégias próprias para lidar com as adversidades do cotidiano. Essa margem de discricionariedade permite a adaptação das políticas à realidade local, mas também pode gerar desigualdades no atendimento. Conclui-se que o equilíbrio entre normatização e autonomia é essencial para a efetividade e equidade das políticas públicas, e os achados contribuem para aprimorar a gestão e a prática socioassistencial nos CRAS.